segunda-feira, março 26, 2007

Ponto de partida


Era uma estação igual a muitas outras onde as pessoas se atropelam na urgência de chegar a lugar algum...
Talvez fosse o único sem pressa, sem destino, apenas com um bilhete para o esquecimento, em busca de um futuro sem passado...
Fiquei no olhar perdido, no desejo contido, à espera do adeus merecido e final, nos painéis as informações que não li, o meu comboio não vinha à hora, também tu não chegarias para a despedida...
Tentei absorver a luz daquele dia, as cores com que a alma pinta os caminhos que a mente escolhe, talvez na utopia da vontade ultrapassada pela evidência.
Os factos esvaziam a paixão e tudo se torna demasiado real para que os sonhos repousem no meu peito.
De repente, vislumbrei imagens soltas..., deixei-as da mesma forma que o passado...
Pelos caminhos quentes desta estrada sem sombra, o sol toldou-me o olhar e perdi-te algures num desvio sem sinal....
Fui apenas um cometa que por aqui passou, muito barulho, poeira e luz mas que com o tempo se esquece, tornei-me maior do que sou porque as minhas palavras encerravam o meu desejo de ser, porque transportavam a voz da minha alma....
Tal como um vidro vulgar reflecte o sol duma forma mágica, assim eu me tornei por instantes até uma nuvem passar e a realidade assumir a sua função...
Parto sem rumo, todos os horizontes se aceitam, todas as missões são possíveis, todos os sonhos são legítimos.
Ficam as memórias de um tempo sem tempo, de um espaço onde o sol e as estrelas coexistiram em harmonia perfeita, de uma história por inventar.
Deixo-te no silêncio de um adeus, de um beijo roubado pela saudade que não sinto...

Texto: José Carlos
Foto: Isabel Gomes da Silva

2 comentários:

' Claudjinha disse...

A única diferença entre os grandes escritores e as "pessoas normais" é que os escritores têm a "coragem" de querer publicar as coisas que escrevem...

E este texto está simplesmente fantástico.

Anjos Sem Asas disse...

José Carlos
Admiro imenso os teus textos.
Obrigado
Mia