terça-feira, abril 17, 2007

Um dia



Um dia, um rapaz passeava junto ao mar.
Era Primavera e o ar salgado deixava-lhe um sorriso na face...
Sem perceber caminhou durante séculos e se a terra fosse mesmo redonda por certo não ia parar.
Mas à medida que a Lua murmurava ao Sol para se despachar, começou a levantar-se uma brisa...
Não era uma brisa normal. Parecia que falava baixinho.
Falava com ele mas sem palavras que pudesse ouvir.
Mesmo assim sentia algo...
arrepios, medo, e quase fugiu correndo...
Tinha que ser forte....
Nem com todos a brisa fala...
e já que o escolhera, devia tentar ouvir. Quase sem pensar, entrou pela maré...
Acariciou as ondas envergonhadas e sorriu para o mar...
O mar sorriu também, para depois soltar uma enorme gargalhada que engoliu o rapaz...
Num turbilhão de água sentiu o fôlego a fugir, e gritou pelo ar que lhe era roubado...
Por segundos pensou que dormiria...para acordar num mundo distante, perto de uma sereia.
Com conchas coloridas e mantos verdes de saudade...
Mas não!!Apenas rebolou na água morna...
Bebeu litros, espirrou sofrimento...
Durante uma hora pontapeou a morte sem chorar uma lágrima...
Saiu voando então...
Aterrou com estrondo na areia, e ficou parado a olhar o mar...
As conchas eram brancas por toda a parte...
Não havia sereia, nem um mundo diferente...
Escolheu por fim a sua realidade, porque se o senhor mar não o aceitou, alguma razão devia ter...
Texto: Nuno West

1 comentário:

José Faria disse...

Nem com todos a brisa fala e cada vez com menos.
Absorvida a humanidade, esquecida da existência das estrelas, até a personificação dos elementos como sujeitos da acção da riqueza criativa e artística do pensamento poético, lhes passa ao lado.
Aqui se mostra a arte e a beleza da comunicação sem limites.

José Faria