domingo, abril 22, 2007

Sombra


Após caminhos primeiros
Tragados da escola à lida,
Nas obras de trolhas, pedreiros,
Surge minha sombra erguida.
É também a vez primeira,
Que olho a sombra que é minha;
Diante de mim derradeira,
Altiva, precária se tinha.
Ficou hábito da presença,
Então jamais me deixou.
A noite trás sua ausência,
Recolhe a mim, dela sou.
Diferentes caminhos tragados,
Sombra minha companheira,
Dás aos trabalhos pesados,
A forma de brincadeira.
Tens vida em dia luzente
De sol na sua descida.
Sombra! – Pareces contente.
Sempre perto e de fugida.
Ao meu pé, longe te mostras,
Conforme a claridade.
Nas casas e muros te prostras,
Sempre a mesma habilidade.
Aos campos rápida te lanças,
Sobre a seara e o vento.
Magoa-me a esperança
Ao perder-te a todo o tempo.
Mas eis que saltas de novo!
Num muro, margem da estrada.
À sombra nada é estorvo,
Caminha mesmo prostrada.
Queria-te ainda mais forte,
Sombra minha companhia:
Se tivesse a tua sorte,
Sem luz não existia.
Queria mais que imitação
De meus gestos, movimento!
Igual ser, gémea razão,
Sermos dois a todo o tempo!
Tu a sombra, eu real,
Meu querer duplicado.
Ser meu corpo material
De energia aumentado.
Mais longe iria chegar,
Na acção, no pensamento!
Seriam dois a pensar
Com maior discernimento.
Duas forças, um só querer
A anular o que não presta:
Da maldade pó fazer
O pó do fim que nos resta.




Texto: Zé Faria
Foto: João Viegas
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